segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Primeira conseqüência da anatomia - Parte I.

* Referência: Alguns exemplos da questão da anatomia.

Qualquer que seja o sistema adotado por um determinado grupo de jogadores, eles devem se fazer duas perguntas simples e interconectadas: "O sistema que estamos usando nos satisfaz em relação à sua forma de encarar e balancear as regras e a interpretação?"; e, "Existe algum outro sistema, mais ajustado aos nossos desejos, ou nós podemos fazer alguma adaptação no sistema que usamos, que vá torná-lo mais adequado ao que queremos?"

Mas, há um adiantamento aqui. Antes de o grupo se perguntar isso, deveria refletir sobre a primeira questão que qualquer um que deseje jogar RPG deve se fazer: "Eu realmente quero jogar RPG?"
  
Muita gente diz que RPG é diversão – se todos estiverem se divertindo então está tudo bem, e o jogo está bom. Sobre essa questão, é interessante dar uma olhada na opinião expressada em "Delta`s D&D Hotspot". De todo modo, essa idéia é uma verdade apenas parcial, e dificilmente generalizável. Conforme analisado anteriormente, o RPG está vinculado aos aspectos lúdico e teatral da experiência humana. A diversão do RPG deve derivar da execução satisfatória e combinada desses dois aspectos inerentes à essa atividade.
  
Essa espécie de diversão não é fácil de se conseguir: ela envolve a dedicação e o compromisso, de todos os envolvidos, em interpretar seus papéis, respeitar as regras acordadas, e construir uma estória conjunta que seja satisfatória para o grupo inteiro. Isso não é fácil de se conseguir, e exige um tremendo esforço, tanto dos jogadores, quanto do mestre. Esse esforço, evidentemente, só compensa se os envolvidos realmente sentirem prazer e se divertirem com o resultado final da sua dedicação.
  
Se um grupo se diverte ao se reunir porque conta piadas, troca conversas, compra uma pizza, mas praticamente não joga quase nada - ou se o jogo sai truncado, sem nenhuma estória claramente construída e interessante para o grupo -, então, possivelmente, era melhor fazer outra coisa. Seria mais interessante jogar videogame, ou futebol, ou xadrez, ou simplesmente sair para comer algo e conversar. Acreditem, nesse caso, o RPG está atrapalhando a diversão, que poderia ser bem mais intensa sem a presença do jogo.
  
Eu digo isso por experiência própria, em face de muitas sessões de jogo nas quais o divertido foi encontrar os amigos, bater papo, trocar idéias, mas não, propriamente, jogar RPG. Tais sessões costumam ser chatas, vagarosas e pouco originais – quando não se resumem, dependendo do sistema, a combate depois de combate depois de combate. Jogar RPG desse modo é jogar pela metade apenas.
  
Há uma diferença gritante entre a diversão que é conseguida em um sessão de RPG, mas externa ao jogo, e a diversão que é conseguida por se jogar RPG. Essa diversão compensa o esforço que o jogo exige – e é o que os interessados em RPG deveriam buscar constantemente.
  
Nesse sentido, digo que RPG não é para todas as pessoas. Não que o RPG tenha uma aura sacra ou coisa do gênero – mas sim porque não são todas as pessoas que terão a disposição de se comprometer com o jogo. Elas estarão se divertindo muito menos jogando RPG do que poderiam estar se divertindo fazendo outra coisa. E, pior: estar-se-ão frustrando. A experiência ideal de RPG envolve pessoas dispostas a se comprometer verdadeiramente com as regras, com a interpretação e com a construção de uma boa estória – e, ainda assim, muitas vezes tais pessoas falharão – e ficarão bastante frustradas. Tal tema ainda será debatido futuramente.

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