terça-feira, 29 de dezembro de 2009

As Crônicas de Tallyar - #5.

* Referência: As Crônicas de Tallyar - #4.


O Reinado dos Forsthar e a Guerra Civil


Apesar de muito mais duradouro, já que perdurou por quase cento e cinqüenta anos, o domínio de Alltenstarch sobre Tallyar foi muito mais leve que a experiência gárrya. As culturas de ambos os povos eram semelhantes, e suas estruturas políticas eram similarmente feudais, de modo que a vida em Tallyar, nessa época, não diferia muito daquela sob o antigo domínio dos Bálazs.

A diferença real era sentida pelos nobres, que foram privados de suas terras, direitos e prerrogativas, e se viram muitas vezes obrigados a trabalhar no cultivo da terra e no comércio para sobreviverem, já que haviam sido desprovidos de qualquer força política. As famílias tradicionais foram substituídas por nobres vindos do norte.

Ao sul, Gárrya parecia não se recuperar das guerras no leste. Os senhores Allten tinham muito mais medo de guerrilhas e resistência local do quê de uma nova invasão gárrya. O principal trabalho político dos “Reis” de Tallyar foi destruir as defesas e fortificações que haviam sido erguidas ao longo das muitas guerras pelas quais o país passou.

Enquanto isso, a casa de Bálazs buscava abrigo e apoio pelos reinos, países e cortes de Prystina. Porém, não foram recebidos nem nas terras quentes de Illya e de Bondor, nem nas Ilhas de Castya, nem nos principados de Agrarth, ou nas penínsulas de Vyrna e de Joern. Apenas nas Cortes distantes de Larthor foram acolhidos, mas os senhores dessas terras eram tão pobres que não podiam ajudá-los. Jamais pisaram na República de Safira, já que se recusavam a aceitar a ajuda de plebeus ...

Desesperados para manter sua dinastia viva, os lordes Bálazs decidiram retornar às terras de Tallyar e dar início a uma guerrilha, e, se possível, a uma nova guerra civil, para retomar o trono que lhes pertencia por direito. Buscaram ajuda junto ao povo, mas esse tinha medo e vivia relativamente bem – o risco, para os camponeses, era grande demais. Buscaram ajuda junto aos nobres, mas esses tinham medo e não possuíam força nem política nem militar. Lorde István Bálazs tentava organizar um exército, mas praticamente não tinha recursos próprios, e era usualmente acompanhado tão somente por sua guarda pessoal e família.

Finalmente, um nobre sem honra e cobiçoso, Yaro Largho, denunciou a presença dos Bálazs ao governo Forsthar. À noite, a coorte de István viu-se obrigada a combater e fugir pela própria vida. Em uma perseguição desesperada, refugiaram-se no interior da Floresta Alta. E lá encontraram os elfos. E esperaram a morte.

Elfos arqueiros, escondidos na mata, os capturaram. Eles foram conduzidos à presença de Argaith Elsfonor, descendente do rei elfo que outrora havia sido deposto e morto por Orban. István apresentou-se, e jurou ao elfo que estava pronto para a morte.

Mas Argaith disse-lhe que seu povo havia sido derrotado em combate pela casa de Bálazs, e que lhes havia jurado lealdade. A política humana era suja, mas a dos elfos não era. Argaith jurou lealdade a István, renunciou ao título que simbolicamente possuía junto a seu povo, e colocou os guerreiros élficos à disposição do lorde humano.

Profundamente envergonhado pelo que sua casa havia feito aos elfos, István pediu perdão de joelhos a Argaith, e a todos os elfos presentes. Essa cena, atualmente, encontra-se imortalizada no átrio do Castelo Vyryana em Yaltha, a nova Capital de Tallyar, em quadro pintado pelas mãos de Syara, a Cega. Dos recônditos escuros da Floresta Alta, os guerreiros elfos iniciaram uma campanha de guerrilha contra os invasores.

Aos poucos, a guerrilha começou a ter sucesso. Guerreiros empolgados juntavam-se, na Floresta Alta, à Revolta Bálazs. Patrulhas sofriam perdas constantes, suprimentos eram desviados e roubados, estrangeiros eram assassinados sem piedade. Após dois anos de revolta, a cidade de Dénes, mais ao sul, foi tomada em um ataque surpresa noturno, e tornou-se a praça forte da Revolução.

Pouco tempo depois, os anões do clã do Escudo Partido apareceram. Apesar de desconfiados dos elfos, e morrendo de ódio, não podiam aceitar que elfos honrassem compromissos e eles não. Juraram novamente lealdade aos Bálazs, e juntaram-se à guerra. As casas de Strenski, Hajna e Vinge também rumaram para Dénes, e se juntaram a Istvan.

Nessa época, apareceram em Tallyar emissários gárryos. Eles estavam diferentes. Muito diferentes. Pouco se sabe, mas parece que a guerra do leste resultou na fusão dos dois Impérios que se digladiavam. Eles ainda se chamavam gárryos, mas não eram mais os mesmos. Uma missão foi até o Rei de Tallyar, Tharrus Forsthar e lhe deu um ultimato: que reconhecesse o direito ao trono de Tallyar da Casa de Bálazs, e que se recolhesse para suas terras em Alltenstarch, sob pena da fúria de Gárrya.

Outra missão foi até o próprio István. Estavam dispostos a apoiá-lo, e informaram-lhe do ultimato a Tharrus. Mas todos sabiam o que iria acontecer: Tharrus marcharia com seu exército sobre Dénes, em uma tentativa de suprimir a rebelião – desse modo, não haveria a quem os gárryos apoiarem. Era necessário, portanto, vencer essa batalha. Se Tharrus fosse derrotado em combate, seria viável negociar a independência de Tallyar com Alltenstarch. Ainda assim, era possível que o Império invadisse Tallyar para garantir a vassalagem da região.

István não tinha ilusões. Sabia que os gárryos o apoiavam somente porquê ainda não tinham forças para invadir, por si só, Tallyar, que também consideravam sua por direito. Mas não tinha opções, e aceitou de bom grado as armas, armaduras e suprimentos enviados pelo Império do Sul.

De fato, Tharrus reuniu seus exércitos e partiu rumo a Dénes – István preferiu evitar o cerco, pois tinha quase certeza que pereceria de fome e sede. Na famosa Batalha dos Campos de Lírios, um contingente inferiorizado de humanos, elfos e anões, liderados por István e Argaith, derrotou e virtualmente aniquilou o grosso das tropas de Tharrus, sendo que o próprio cão invasor foi morto pela lâmina de István. Argaith, lamentavelmente, caiu em combate.

Após a inesperada vitória sobre os invasores, a grande dúvida girava em torno de avançar e tentar expulsar de vez os homens de Allten, ou fortificar Dénes e capitalizar sobre a vitória conquistada. As notícias de além do Rio Crynes, entretanto, chegaram rápido a Tallyar e a Gárrya. O Império de Alltenstarch havia sido invadido em seu extremo norte pelos selvagens guerreiros de Vyrna e de Joern. O Imperador morrera em campo de batalha sem deixar filhos, e nobres do leste eclodiram uma sanguinolenta guerra civil. Ao leste e ao sul, alguns dos principados de Agrarth, e o Rei de Illya, tinham pretensões expansionistas. E a República de Safira não se incomodaria em estabelecer uma ou duas colônias no continente. O Império, literalmente rachado em várias partes, não poderia ajudar seu vassalo.

Era a hora. Com o apoio de Gárrya, István marchou sobre Listza, e, praticamente sem encontrar resistência, desbaratou o quê restava do governo invasor. A cidade não foi destruída, mas sofreu bastante com as comemorações pela derrota da casa de Forsthar. No sítio onde foi erigido o primeiro castelo de madeira de Tallyar, construído pelo lendário Duque Andor, foi erguida a nova capital do Reino: Yaltha.

E, em Yaltha, István foi coroado o novo Rei de Tallyar, com amplo apoio da delegação gárrya. Nesse dia, para compensar e proteger os elfos, István casou-se com Yellena, filha de Argaith, que se tornou a primeira rainha élfica de Tallyar – para enorme desgosto dos anões e de muitos humanos.

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